Minha concha
Cada vez mais eu me vejo e me aceito como uma pessoa só,
que nasceu apenas para si,
E não pertence a ninguém.
De tristeza em tristeza, despedida em despedida
Vou colecionando tijolos,
E construindo um muro ao meu redor.
Sei que tudo dura o tempo necessário que têm que durar,
Mas todo encontro, seja no contexto que for,
sempre dura pouco para mim.
Cada dia mais eu me agarro a solidão
E a visto, como uma manta no meio da madrugada fria.
E no desejo de não ter mais que lidar com despedidas
Evito começos, evito os primeiros encontros.
Se envolver é uma bagunça,
Qualquer parte nossa que doamos
Faz falta depois, quando o outro decide partir.
Minha concha então se torna,
O lugar mais confortável do mundo
E mais uma vez, volto pra ela.
Um pouco mais madura,
Mas quem precisa de tanta maturidade?
Ser intenso por vezes é um porre,
Se entregar de corpo e alma para alguém
Para depois, se estraçalhar no chão
e recolher todos os cacos sozinha.
Esses relacionamentos líquidos são tão cansativos,
Nada parece durar,
As pessoas se cansam rapidamente e se vão
Tudo escorre entre os vãos dos dedos,
E tudo o que é vivido, parece não significar nada.