Alma avulsa

Deitou-se, tinha muito a fazer, levantou-se.

Levantou-se, tinha muito a descansar, inquietou-se.

Ofereceu tudo, mesmo que nada...

Não sendo nada, perdeu-se em tudo.

Desejou morrer por sentir-se inútil

Rogou por viver, por julgar-se útil...

Pensou bastante com muitas palavras

Calou-se por serem tantas

Pensando em si, sentiu que não existia

Que tornava-se um peso quando do vácuo aparecia.

Sentia sua presença clamada, mas quando surgia era ignorada.

Olhando para si através do reflexo que via nos olhos dos que lhe viam, via apenas seus defeitos, e tudo que aqueles olhos projetavam sobre si.

Sua real pessoa era como um defunto numa missa de corpo presente

Nos olhos dos que lhe contemplavam, a alma que nunca existiu, forjada nas expectativas não correspondidas, nascidas das palavras não ouvidas.

Em volta desse corpo presente, a sua alma paira saltando do imaginário dos que lhe velam.

Esses não percebem que naquele corpo há uma alma própria, com suas capacidades e limitações

Esses não percebem que no corpo o pulso ainda pulsa.

Que cada vida é única, cada alma é avulsa.

Claudia Nunas
Enviado por Claudia Nunas em 25/03/2022
Reeditado em 25/03/2022
Código do texto: T7480872
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