Desprendendo-se

De todas as coisas que apertam

Daquelas que parecem ajustar a vida

E dos sonhos que rápido despertam

E de novo faz empobrecer a lida

Desprendendo-se dos da sua volta

Daqueles que foram sem nada avisar

Dos medos anteriores aos agora

Dos que desejam à sua memória voltar

Dos bens que deserdam o caminho

Das torrentes embreagadoras de cada dia

Nas demasiadas realizações sem norte

De todas as peripécias indevidas

Desprendendo-se das forças erradas controladoras

Que engessam a alma ao sepulcro arrumado

Da sobra dos que deram sem querer

De todos os momentos vãos e forçados

Das estranhas presenças do passado

E dos outros fantasmas insistentes

Das costas dadas nas agonias

Dos modos que à vida foram indiferentes

Desprendendo-se das vias facilitadas

Enganadoras dos que vão sem se ajeitar

Dos que aceitam tudo e qualquer coisa

Das fraquezas que não sabem parar

Dos tidos sábios emergentes

Nos conselhos explícitos e descuidados

Das palavras mal arranjadas

Sem que saibam qual é o significado.