O FRÊMITO DE UMA PAUSA

Quem roubou do teu semblante

A poesia de todo aquele instante

Que só a ti pertencia?

Quem e para quê

Transformou teu lar em padecer

Onde adormeces na agonia?

Nenhuma queixa resmungas,

Nenhum atalho, nenhuma fuga,

Apenas a ânsia de existir.

Mas o que és fora sepultado

Nos solos do enfado

De uma nulidade que não pudeste sorrir.

Quem imobilizou teus dedos

Para que tão cedo

Estivesses a naufragar?

Quem adulterou tuas horas

E infiltrou em tua memória

O pesadelo de não poder sonhar?

A saudade é tua família?

A mágoa é tua filha?

Foste tu quem criaste a solidão?

Deslizas em tuas perguntas:

Quem? Por quê? Muito procuras

E não sabes que padeces por tuas próprias mãos.