Cela

Trancafiado numa cela, tão fria e escura, assemelhava-se ao coração dum político.

Assassino pelo simples gesto da palavra. Covarde, opondo-se à verdade.

Atribuo o emaranhado de sentimentos à cela donde passo as noites mais fúnebres de minha vida.

Acusar metáfora é errôneo.

O pobre sabe, sente dores demasiadas, tão latentes quanto o ferrão duma vespa.

Vivo trancafiado nesse redemoinho de sentimentos,

Minha cela escura e fria.

Dum jovem acreditado num falso atrevimento,

Manipulam-no à defesa ardente ao homem;

Ora, não és o jovem um homem?

Semelhante aos demônios, políticos derramam suas bombas de fumaça,

Tornando-nos cegos diante da cortina.

Jogam armadilhas ideológicas, fazendo-nos guerrear entre si.

Sinto-me mais preso nessa cela.

Oh, escuridão; frio, demasiado frio.

Tornei-me programado, jamais houvera luz,

Clareza habita no topo, duma pirâmide desonesta;

Aos "inferiores", trevas.

Servirmos, pois és a nossa praxe:

Servidão.

No centro da bendita cela, donde os lumes, dão espaço a treva,

Torna-me-ei solitário.

Os condenados aguardavam por isso.

A cortina ideológica cegou-nos...

Destrua-me, oh, dolorosa cela!

Da boca seca, alucinado pela doída sede,

Ouço o cantarolar dos anjos...

A consciência retorna, ainda estou no centro da cela.

A fumaça encobre todo o corpo,

Ouço vozes às cegas;

Ódio, discussões tão ilimitadas,

Sem pudor.

Esperanças morrem dentro da cela.

Estou condenado.

Contribuinte eu sou.

A cegueira, advinda duma poluição, fez-me pecar;

Naquele pacto celestial:

Amor.

Sociedade desunida, fervorosos por ideologias,

Esquecem-se do amor, maior de tudo.

Esta é a cela, tão fria e escura.