Obsoleta

Thales e Regina, até breve.

Recepcionem-me. Cumprirei o meu legado e os aguardo nos campos de trigo, assim que atravessar a minha porteira, quando a derradeira das gentes chegar.

Estou cuidando da minha centelha. Ela completou cinco aninhos, e já os conhece pela saudade em minhas palavras.

Dos meus, dois partiram

Levando muita coisa de mim

E enfim, despedaçado

Precisei continuar

Em muitos lugares, queriam que eu estivesse

Eu estava, mas eu não estava lá

Num redemoinho de confusões refleti

Sobre o meu gosto por antiguidades

Igrejas velhas, tintas velhas

Patrimônios tombados, eu tombada

Gramofone, máquina de escrever antiga

Hepburn, Gump, telefone de girar com a ponta do indicador

Coração vagalume pisca de alegria

Meu filho brincando

Eu brinco com ele

Mas eu sou do que já não é mais

Obsoleta virando arte

Daquilo tudo que virou uma saudade

Imprevisível e atemporal

Poeta de Borralho
Enviado por Poeta de Borralho em 21/08/2022
Código do texto: T7587450
Classificação de conteúdo: seguro
Copyright © 2022. Todos os direitos reservados.
Você não pode copiar, exibir, distribuir, executar, criar obras derivadas nem fazer uso comercial desta obra sem a devida permissão do autor.