Palavras nunca compreendidas

Escrever me acalma.

Organizar pensamentos

Em meio à confusão

Ao rever sentimentos

E retificar uma ordenação.

Transcrever ao papel

A alma, o desejo, a sensação.

Já escrevi com o pincel,

As rimas eram minhas

E eu me rendi a elas

Tecia-as fluída em linhas.

Hoje tento organizar

Meras palavras soltas,

Que estão a vagar

Na minha mente e voltas

Tento-as agarrar fortemente,

colocá-las em ordem

Tirando-as da minha mente

Para fazer o mais belo sentido

Que eu ansiar exprimir.

Um texto editado e relido,

No mais perfeito estado

Minunciosamente escolhido.

Falar é bem mais difícil

Não se pode desfazer e apagar

Para voltar tudo do início.

Então como é possível

Em palavras mal pensadas

Expressar o inexprimível?

Pensamentos realocados

Que rapidamente através

De uma sinapse são falados,

A que primeiro chegou

E o simples movimento 

Da língua na boca iniciou,

E acabou, já foi dito.

Não pode ser alterado,

Como um texto tão editado,

Nunca pronto para ser lido.

Mas, palavras, independente

De serem ouvidas ou lidas,

Perdem-se simplesmente

Em tantos sentidos

Na falta de um intérprete

Não será entendido,

Nunca aquela exata sensação,

Sentida no exato instante

Se explicará na comunicação.

Esses ruídos de fala e escrita

São reais e existentes,

Tão quanto o medo sem medida

Se não ser nunca entendida

Ou, principalmente,

Compreendida.