Entranhas e Entrelinhas (nome provisório por enqto)
Um dia você sai de casa
E é o último dia
Você nem desconfiava
Claro, vc não sabia
E porque não sabia cria que havia tempo
Assim nem sentia
A carícia fria do vento
N achou interessante
A umidade excitante
E pré orgástica do sereno
Que quedou-se incrédulo vendo
Que nenhum rigor invernal
Se comparava a frieza da ilusão do tempo
A ilusão de que ele é nosso
De que o possuímos
Sem nos apercebermos
Que minuto a minuto ele nos devora
Seja no relâmpago do milésimo
Ou na eternidade da hora
Sacode Alma, acorda!
Que o tempo, diferente da chuva não volta
Sua estrada sem curvas
Oculta suas retas tortas
O sol tenta um último beijo tórrido
Mas você é indiferente
Não reage, não sente
Não sabe que o tempo é rente
E continua deixando pra viver depois
Em 1° lugar as obrigações!
E assim pouco a pouco
Com a firmeza da ruga cinzelando o rosto
O dia vira carga
E a vida vira peso
Água fria em fogo aceso
Cobrindo de cinzas corações
Desiludidos em pulsar
Pra que seguir? Porque lutar?
Cadê a alegria contida no continuar?
Podia voar colorida
Mas está escondida na larva
E qd o fardo vira farda
A alma vira arma
Tic. Tac.
Clic. Clac.
Cadê a rigidez do dedo que apontava?
Porque tremes diante do Nada?
Busca mão desesperada
A mesma certza que tinhas
Enquanto desferias tapas
Mas donde estás que não encontro?
O suor escorre tão farto quanto as lágrimas
O peso pesa
O inferno berra
Como o alarme de manhã
Insistindo e gritando
Açoitando o corpo pra o levantar
Mas espera! Pare!
Não era essa a função do desejo?
Quando foi que o deixamos escoar
Até vê-lo se transformar
Em algemas tão fascinantes
Que ante à liberdade oferecida a cada instante
Escolhemos nos algemar?
O peso pesa
O tiro erra
O alvo berra
Enquanto mata quem não queria matar
A noite cerra e encerra
Segredos roucos de tanto gritar
Clique. Claque.
Perdoa pequena ingrata
Por tão grande covardia
Disfarçada em luz do dia
E orgulhosa do disfarce.
A mão, gelada e dormente
Suada e temente
Acaricia a dor q sente
Tolo tesouro
Aliança de ouro
A brilhar sozinha em dedos trementes
Entre os trilhos e os dormentes
A esperar em agonia
Porque sabe que o aço que açoita
Volta afoito a cada dia.
Tic. Tac.
Um dia novo nasceu
O alvo estava salvo
Na pressa que impede a consciência
Era pra ser vida
Virou apenas existência
E sim, você sabe disso!
Mas admitir parece perigoso
Tal qual a fragilidade do olho
Ante à impavidez do cisco.
Um dia você levanta
Sem saber que acabará
Que a última chance foi embora
Desperdiçada como a madrugada
Esquecida na altivez da aurora
Sempre implacável a brilhar.
Você sabe e não sabe
Sabe que um dia acaba
Não sabe que o dia chegou
Viveu perseguindo ilusões
Ao invés de usufruir do Amor
Você sabe que não sabe
Mas finge ser professor
E aquele último beijo
E próximo abraço
Não estarão mais disponíveis
Nas prateleiras invisíveis
Onde guardamos os bons momentos
Que nunca chegarão
Findou-se o tempo da ação
A benção da palavra amiga
Que suplicou ser proferida
Dissolveu-se esquecida
Num canto qualquer do coração
E o pior? É q dava tempo!
Ele estava ali, o tempo todo a nosso favor
Aguardando ansioso
Nossa escolha pelo fervor
Sai, mornidão d vômito!
Que não foi pra ti que nascemos
Nem por ti fomos concebidos
Vai! Vai, ainda dá tempo!
Espalha tua Luz ao vento
Amando quem escolheste amar
Sendo leal ao q decidiste honrar
Mergulha vai, em tua essência!
Traz à tona, à consciência
A faísca sem indulgência
Procurando sôfrega o que incendiar
Vai, não hesita nem adia!
Pois eis que o Último Dia
Ao longe acena, a caminhar
Tic. Tac.
(Não é ameaça, se pode ser paz).