SINA

As coisas da vida vão passando por mim

e, como esponja, absorvo a necessidade,

incrustaram à epiderme as puras verdades

e minhas joias, ao contrário, brilham de fim.

Escada, janela, panela, mesa, caneta, giz,

escrevo o que vejo e como elas são,

mas como me autodeclarei poeta e fiz

uma junção de toques de tela e palavrão,

disseram que era poema; qualquer outro

que escrevesse a situação no mesmo esquema

ah, seria só uma encarnação, um estorvo,

se eu erro no despreparo da língua: licença;

se o cidadão erra é uma despreparação

que se corrige na profundidade gramática

em cursos onde a capacidade pragmática

leva ao fim e a cabo tudo de reflexão

e lá se vai o sujeito pra decoração

só pelo fato de não ser poeta!

É claro que estou mentindo em nome da peta,

mas faz sentido.

Que valor tem mais: saber a métrica

ou a sintaxe?

Quebrar o período no sentido

ou prezar a vírgula na frase?

É bem mais útil o saber objetivo

do compêndio de todas as regras

que inventar as suas em nome de uma poética

que não gera um só centavo

e absolutamente não agrega,

queria eu a mesma habilidade

na hora de responder os simulados,

erro questões de minha competência

e não tenho perspectiva de ser aprovado

que meu nome só tem valor na sina

que assina o termo do empossado.

Diego Duarte
Enviado por Diego Duarte em 04/07/2023
Código do texto: T7829494
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