Chegou o momento!

Chegou agora a hora do mito extinto fenecer,

Lembra ainda as grandes horas urgidas de sangue

E elevadas flâmulas acesas pela glória e poder?!

Mal tinha visto a primeira luz no firmamento nascer,

Já a palidez e a mentira inundavam teus sangrentos pés,

E a alegria fugia no dorso quente das marés.

Ondas de breu andavam sorrateiramente pelas cidades,

E tua vigília exigiu o puro sacrifício da lealdade

Dos milênios ajoelhados em facções e planícies estéreis.

Sem os deuses pelos quais as lutas povoassem,

Outros povos vieram se aninhar nas tuas causas

E viam-se guerras sem memória amotinar a nação,

Nação povoada por tantas misérias, mortes, aflição.

Sem os deuses pelo caminho, vimos emudecer a história,

E as espadas ainda não se prostaram na porta das famílias.

Extinguir-se-á a Ira por toda a vastidão dos mares e dos vales?

Veremos morrer o eco tribal das chacinas e de tantos males?

Retorna, meu amigo, pois o tempo está sendo de secas e de fome.

Já expiram as colheitas entre os teus braços cansados,

E por toda a floresta, vagava à toa a silenciosa noite,

O horizonte espiava as searas vermelhas do porvir.

Saibam, porém, que os heróis nascem do ventre do silêncio,

Embora as nuvens cinzas soergam um negro lençol contra o Sol,

E as frontes pintadas de sangue pelos dedos da cólera e do rancor

Serão apagadas pela chuva que expiará nossa tristeza e temor.

Jazem enterrados eternamente os mitos nesse longo caminhar,

e nossas mãos já tocam o solo e estão prontas para a gleba arar

e nossas vidas, sonhos e histórias poderão semear e frutificar.

Gilliard Alves
Enviado por Gilliard Alves em 09/07/2023
Reeditado em 12/07/2023
Código do texto: T7832999
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