O poeta é lavrador

No árido solo, onde o suor vive perto,

Lavra-se a terra, numa profecia fluente.

O lavraDOR, em seu labor duro e certo,

Semeia sonhos e sementes, alegremente.

As mãos calejadas cantam um choroso canto,

Ardem nas chagas que a rude enxada revela.

O poeta é o cultiva-dor de cada verboso campo,

E ele dissipa a escuridão com a chama de sua vela.

Lavrando a terra, mergulho em segredos

E nas entranhas áridas do solo ancestral.

É preciso arar o mistério da vida sem medo

À procura de si mesmo neste desértico matagal.

No sulco aberto, a alma enfim se desvela,

Segredos do solo se descortinam a mim!

No fio da enxada a dor me olha e se revela,

E nasce uma rima, às vezes boa ou ruim.

Na aridez das planícies interiores,

O suor é tinta, é poesia que flui.

A enxada é a mão que sulca flores

E desenha a paisagem que reluz.

Lavra-se a terra como num ritual sagrado,

Cultivando a vida em meio a tanto desalento.

O agricultor, poeta dos pastos e dos arados,

Em seu capinar escreve o poema a contento.

Nos sulcos abertos, raízes e amor se entrelaçam,

Emaranhados de versos que fertilizam esta terra.

O verbo ventará vozes onde as almas se enlaçam,

E os prantos do poeta brotarão orquídeas nas serras.

Estão revolvidos com amor os campos de uva,

E as mãos cavam e se perdem no barro profundo;

A Palavra segue germinando e caindo como chuva,

E nesta labuta o poeta debulha os grãos do mundo.

Gilliard Alves
Enviado por Gilliard Alves em 14/07/2023
Reeditado em 15/07/2023
Código do texto: T7837016
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