A real plenitude do eterno

Todas às vezes que eu contemplo o pôr do sol,

A alma se enleva em um canto sisudo e profundo,

“Qual é o sentido de existir, de estar aqui?”,

indaga o espírito ao calcar a realidade do mundo.

Todas às vezes que eu contemplo o pôr do sol,

As cores dançam como borboletas em chamas,

E o silêncio fala como a eloquência de quem ama,

Ofertando a sabedoria pela qual o humilde clama.

Todas às vezes que eu contemplo o pôr do sol,

Sinto em meu corpo a efemeridade da existência,

Como o dia que se despede pelos céus da tarde,

E a noite chega com seu silêncio e sua essência.

Todas às vezes que eu contemplo o pôr do sol,

Vejo o ciclo da vida mostrar sua verdadeira nudez:

Nascimentos, mortes, alegrias, prantos, ciclo a bailar

Nesta eterna valsa cósmica a luzir e a sempre se apagar.

Todas às vezes que eu contemplo o pôr do sol,

Reflito na janela sobre os propósitos das jornadas,

Percebo que a vida é um labirinto de enigmas,

E cada um caminha com suas certezas relativizadas.

Todas às vezes que eu contemplo o pôr do sol,

As preocupações se tornam insignificantes,

E minha alma se enche do mistério da gratidão

Pelas chances de viver cada transitório instante.

Todas às vezes que eu contemplo o pôr do sol,

Contemplo, em verdade, minha própria jornada,

Vejo, pois, que cada dia brilha e logo depois declina,

Viver é andar sempre no escuro nesta longa estrada.

Assim como o sol se esconde no horizonte premente,

Eu também me oculto em busca de algum amor ou razão,

Mas eu sei que, ao amanhecer do outro dia fulgente,

Renascerei com o coração cheio de céus e de perdição.

Todas às vezes que eu contemplo o pôr do sol,

Encontro-me com o meu “ser” mais profundo,

E descubro que a vida é um rio em eterno fluxo,

Cujas águas formosas são perigosas; assim é o mundo.

Todas às vezes que eu contemplo o pôr do sol,

Aprendo a abraçar os vales férteis da Incerteza,

E tocar no banal e no colossal o rosto da beleza,

E sentir ascender em mim uma lua cheia de pureza.

Todas às vezes que eu contemplo o pôr do sol,

A vida me lembra que o amor e a dor são breves,

E que cada ato vivenciado é como luz de um farol,

Cada amor sentido é como a lágrima de uma prece.

Todas às vezes que eu contemplo o pôr do sol,

Questiono o fluir inexorável de nosso tempo,

E percebo que, como o sol que acolá se recolhe,

Também seguimos rumos em diversos firmamentos.

O crepúsculo olha-me e, sim, aceito que tudo tem fim!

O vento e os girassóis cantam: tudo é impermanente,

E na brevidade dos sonhos atingidos e momentos vividos,

Tocaremos a real plenitude do Eterno no instante presente.

Gilliard Alves
Enviado por Gilliard Alves em 28/07/2023
Reeditado em 28/07/2023
Código do texto: T7848135
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