Réquiem ressurreto ao Brasil

No Brasil usurpado de tantas saudades,

A Amazônia canta o fado dos destinos,

Em cada esquina, almas em ressonâncias

Gritam tristes segredos, chacinas de meninos.

Ruas estreitas, casas envelhecidas,

Testemunhas do tempo que passou,

Em cada pedra, memórias escondidas

De amores e sangue que o tempo sepultou.

Nas vielas tortuosas, caminha o fado que chora

Em harpas harmônicas silvam assassinatos e dor.

Sombras amantes dançam pulsantes uma dança lenta,

Ao som do vento que beija o mar; meu amor, embora!

Em tantos becos ocultos, se esconde o tempo

Entre azulejos que contam as mesmas histórias:

De feminicidas, farisaicos; de amores ao relento,

Ao eco das vozes que se abraçam em luares e glórias.

O trem abriga o casal de amantes, rangendo em suas linhas,

Ecoa o eco dos laços afetivos e divórcios que vêm e se vão,

À procura de um lar familiar nas colinas, e a cidade se inclina

Ao peso dos remorsos e das lembranças alegres, à luz do verão.

Oh Brasil, cidade de mil facetas e saudades,

Onde o passado se entrelaça ao presente,

Em cada gaudéria, em cada miséria, em cada vaidade,

Persiste ainda toda a essência, imutável e fremente.

Nos bairros antigos, o fado olha tudo e persiste

Em guitarras que choram e a voz da vida que se ergue,

E o fio emaranhado do tempo, que ninguém desiste,

Se enreda nos versos que o fado tece e depois esquece.

O rio que abraça barcos e afogados, o sol nascente e morrente,

As casas que valsam violências aos ouvidos dos postes,

Em cada rua, comércio, igreja, cemitério, a vida segue em frente!

Ó Brasil! És o asilo político de anjos e demônios e suas hostes.

Em cada ladeira, em cada videira, em cada favela,

A alma de toda cidade, cedo ou tarde, sai e se revela;

Em cada canto, em cada pranto da fome que tutela,

Brasil, Brasil, Brasil: quimera tão vasta, eterna e bela!

Ruma-se ao resplandecente rio, ruge o ressurreto Réquiem,

Ressoando, refletindo e regozijando relâmpagos refulgentes;

Ao Brasil, brilha-se o brioso berço da brasilidade, o Bem;

Renovam-se os ramos, a robustez, a roda da vida das gentes!

Gilliard Alves
Enviado por Gilliard Alves em 15/10/2023
Reeditado em 15/10/2023
Código do texto: T7909309
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