Saudades da Infância Perdida

Na infância, onde o tempo é uma linda quimera,

A alma ri e canta, leve, pela harpa da primavera,

Entre sonhos e risos, tudo é tão misterioso e vasto,

E nosso tempo, mero sopro, passa sem arrasto.

As crianças, pequenas fábulas ambulantes,

Na rua de paralelepípedos tão dançantes,

O Sol, fiel testemunha muda do brincar,

Com a sombra da vida ainda a se formar.

Os dias eram pássaros azuis, voando ligeiros,

Entre árvores, rios e segredos verdadeiros,

O tempo, traidor cúmplice, sorria conivente,

E a vida flutuava como uma pena reluzente.

Mas o tempo, fiel carrasco de nossa ilusão,

Tece nossas estradas, semeia-nos a solidão,

E o corpo cresce, os sonhos se entrelaçam,

E a pura infância e vontades novas se abraçam.

O tempo, implacável, empurra a carroça adiante,

Porém na infância guardamos o tesouro radiante

Das brincadeiras, risos, da pureza e abraços errantes,

A infância e o tempo, eternos, vivem perto e distantes.

Na infância, o tempo se desdobrava em campos frondosos,

Cada dia havia belas tardes que pareciam eternidades:

Pular corda e contar causos e segredos ante olhos curiosos,

E na estação primaveril correr pelos lagos da liberdade.

Era um tempo em que as árvores eram gigantes,

E barquinhos de papel velejavam sob o entardecer;

Onde tocávamos as estrelas qual fossem diamantes,

E as tardes de amizades nunca queriam desaparecer.

O Tempo, então, se estirava e brincava feliz ao vento,

O relógio era um homem estranho, desconhecido;

O Agora nas jubas dos sonhos, sem vil pensamento,

E o futuro seria o pião sob a cama: fixo, calado e caído.

Porém o Tempo, seareiro mudo e tão matreiro,

Fez-se senhor das ampulhetas e da memória,

A infância se esvaiu como fumaça no azeiteiro,

E restaram somente meras sombras de história.

Hoje, olho pra trás e busco aquele tempo tão vivido.

Será que se perdeu esse fruto nas areias do passado?

As infâncias que éramos, onde está este Éden perdido?

Tudo virou um mar de reminiscências, morto e enterrado?

Onde fostes viver, ó velhos amigos e risos radiantes

De verões e instantes tão infantes e inebriantes?!!

Gilliard Alves
Enviado por Gilliard Alves em 25/10/2023
Reeditado em 20/12/2023
Código do texto: T7916693
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