Meu olhar microscópico
Meu olhar microscópico
vai além,
bem aquém
do que os olhares
em volta
não veem
Já me libertei
da caverna
faz tempo
E a luz
que me ilumina
apaga poeiras,
mostrando
a transparência
de cada corpo
Sim, nada é tão concreto
concretamente
Meu olhar microscópico
se aprofunda,
adentra
mil, um milhão, um trilhão
de infinitas vezes
a carcaça, o corpo
e chega do outro lado
intacto
Porque a pele,
enfim o corpo,
o somatório de órgãos,
de sangue,
de músculos,
de células
e suas infindáveis
subdivisões
se fragmentam
a tal ponto
que o corpo
já não existe
concretamente
no espaço
que ocupa
É um ponto
que se une a trilhões
e trilhões
e trilhões
de outros pontos
E há infinitos
espaços entre eles,
que meu olhar microscópico
atravessa-os
em todas as direções
Já não vejo
o que vejo
com os meus olhos,
pois à minha frente
nada existe
e nem eu existo
Meu olhar microscópico
vai além,
bem aquém
do que os olhares
em volta
não veem
Mas, afinal,
quem me olha
e para quem
estou olhando?
André Filho Guarabira
08.12.2023