PASSAGEM DOS TEMPOS
(Reflexão à beira-rio)
O dia em que estamos passando
Passa e consinta-nos o âmago
Passa com as vagas deste ribeiro
Ao morno sopro das conchas —
E o dia seguinte ao presente
Traz em si curiosos passeios
De todos os afetos trocados
E mágoas que ainda perseguem —
É um passado a chamar alto
Pelos ermos e sacros arbustos
Nos quais, a dada altura
Acorrem os sonhos
A um certo lugar
Em busca de novas eras e fervor
Feitos do dia anterior àquele
Em que éramos como os pardais
—Passageiros também
Perpassando
Esta permanente passagem
Dos tempos e vagas pelos ribeiros
Onde apenas, por mor do acaso
Uma vaga memória nos resta.
Redigido em Kimbundu.
Tradução portuguesa do autor.