Têmpera
TÊMPERA
A vida...
Não a tenho
deram-me por empréstimo
sem dizerem-me da efemeridade
o moço plantou a árvore
e pôs o tolo vígil
e se não chover?
bocas famintas habitam em todas espécies
malditas aquelas que medem com a língua!...
têm o condão de ver-me por dentro?
E não me falaram
da amargura da chegada de mãos vazias
da suavidade da letargia
do horror da vida sem poesia
Ensinam com as delícias do saber
a mim somente a inquietude
sorvida toda minha juventude
reflete-me as longas orilhas sem porto
E deram-me
pernas curtas
extensões inimagináveis
mas supersônicos rompem a barreira do som
Tive que ensinar-me
o caracol não vai a lugar algum
não nasci com carapaça
os devoradores de proteínas vivem famintos
Aprendi
saborear o insípido
distinguir o inodoro
ao meu olhar todas imagens são vívidas
Sou extremo...
penso...
tudo em mim é intenso
Sou assim...
cresci na fartura de carências
na aspereza do não ter
na nobreza de ser
não aprendi cultivar subterfúgios
faltei às aulas do postergar
nunca espero o amanhã chegar
encaro o desalinho com a têmpera do marruá
Silencio-me
para não proferir besteiras
da boca do muar nunca ouvi asneira
Seduzem-me com outros caminhos
que buscam encantar-me pelo ócio
satanás quem me oferece
uma riqueza tão pobre
Esbarro, a todo instante
em defuntos ambulantes
humanos que morreram há tempo
e não se deram conta
Habitam em mim
imensurável amor
insuportável dor
que me remetem a ambientes ínvios
Ombreio o amor que sinto
porque meu coração
acusou o sobrepeso
E, se me permitam
o caminheiro não chegou ao destino
o Verdadeiro não o revocou, ainda
a missão não se deu por finda.