Têmpera

TÊMPERA

A vida...

Não a tenho

deram-me por empréstimo

sem dizerem-me da efemeridade

o moço plantou a árvore

e pôs o tolo vígil

e se não chover?

bocas famintas habitam em todas espécies

malditas aquelas que medem com a língua!...

têm o condão de ver-me por dentro?

E não me falaram

da amargura da chegada de mãos vazias

da suavidade da letargia

do horror da vida sem poesia

Ensinam com as delícias do saber

a mim somente a inquietude

sorvida toda minha juventude

reflete-me as longas orilhas sem porto

E deram-me

pernas curtas

extensões inimagináveis

mas supersônicos rompem a barreira do som

Tive que ensinar-me

o caracol não vai a lugar algum

não nasci com carapaça

os devoradores de proteínas vivem famintos

Aprendi

saborear o insípido

distinguir o inodoro

ao meu olhar todas imagens são vívidas

Sou extremo...

penso...

tudo em mim é intenso

Sou assim...

cresci na fartura de carências

na aspereza do não ter

na nobreza de ser

não aprendi cultivar subterfúgios

faltei às aulas do postergar

nunca espero o amanhã chegar

encaro o desalinho com a têmpera do marruá

Silencio-me

para não proferir besteiras

da boca do muar nunca ouvi asneira

Seduzem-me com outros caminhos

que buscam encantar-me pelo ócio

satanás quem me oferece

uma riqueza tão pobre

Esbarro, a todo instante

em defuntos ambulantes

humanos que morreram há tempo

e não se deram conta

Habitam em mim

imensurável amor

insuportável dor

que me remetem a ambientes ínvios

Ombreio o amor que sinto

porque meu coração

acusou o sobrepeso

E, se me permitam

o caminheiro não chegou ao destino

o Verdadeiro não o revocou, ainda

a missão não se deu por finda.

Sebastião Filho
Enviado por Sebastião Filho em 12/05/2024
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