CORDEIROS NÃO CAMINHAM COM LOBOS
A voz que encanta o povo é a mesma voz que o silencia;
A estupidez é sempre a mais perversa agonia.
O fascínio é agradável,
O que torna, por vezes, a armadilha inevitável,
Porém somente a luta atroz livra a presa da teia.
O tolo se sacrifica pela glória alheia
E todo dia canta tristes canções de amor
Pois sabe que o mundo não passa de ilusão e dor.
Para o fraco a metade sempre vai valer muito mais do que o inteiro,
O profundo se confunde com o raso,
E não percebe que do cálice impuro o seu sangue se derrama,
E a pústula é a sua ferida que não desinflama.
E assim vamos teimando, acreditando por acreditar,
Esperando por esperar,
Quem sabe Deus não dá um jeito
Naquilo que nasceu imperfeito,
Naquilo que não soubemos fazer direito.
É a sina do condenado que tudo fique como antes,
Embevecido como a fugaz felicidade nos olhos dos amantes.
Mergulhamos sempre no vazio das promessas para sentir a aspereza da realidade,
E mesmo bastantes feridos continuamos firmes, mas sem propósitos, como se fosse uma penitência.
O lobo não perdoa a ofensa do cordeiro,
E o cordeiro jamais vai saber que não ofendeu o lobo,
Nem porque paga o preço mais alto de sua existência.
E assim vai permanecer enquanto insistir em caminhar com o lobo.