CORDEIROS NÃO CAMINHAM COM LOBOS

A voz que encanta o povo é a mesma voz que o silencia;

A estupidez é sempre a mais perversa agonia.

O fascínio é agradável,

O que torna, por vezes, a armadilha inevitável,

Porém somente a luta atroz livra a presa da teia.

O tolo se sacrifica pela glória alheia

E todo dia canta tristes canções de amor

Pois sabe que o mundo não passa de ilusão e dor.

Para o fraco a metade sempre vai valer muito mais do que o inteiro,

O profundo se confunde com o raso,

E não percebe que do cálice impuro o seu sangue se derrama,

E a pústula é a sua ferida que não desinflama.

E assim vamos teimando, acreditando por acreditar,

Esperando por esperar,

Quem sabe Deus não dá um jeito

Naquilo que nasceu imperfeito,

Naquilo que não soubemos fazer direito.

É a sina do condenado que tudo fique como antes,

Embevecido como a fugaz felicidade nos olhos dos amantes.

Mergulhamos sempre no vazio das promessas para sentir a aspereza da realidade,

E mesmo bastantes feridos continuamos firmes, mas sem propósitos, como se fosse uma penitência.

O lobo não perdoa a ofensa do cordeiro,

E o cordeiro jamais vai saber que não ofendeu o lobo,

Nem porque paga o preço mais alto de sua existência.

E assim vai permanecer enquanto insistir em caminhar com o lobo.

Adolfo Kaleb
Enviado por Adolfo Kaleb em 18/05/2024
Reeditado em 18/05/2024
Código do texto: T8065917
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