sombra do aceno

há um deserto dentro de mim

construído de areia branca finíssima

que quando piso, engolem meus pés,

solapam minhas raízes

e faz com que ande a esmo

nesse deserto não há oásis

há linha do horizonte infinita,

não há canto dos pássaros,

há um silêncio medonho

repleto de mensagens secretas

há um sol escaldente que arde aos olhos,

que arde na pele

e queima a esperança de fugir

vislumbro distante uma saída,

um túnel sem luz,

um diapasão a marcar o compasso

e, cada ida binária

sobra descompassado

meu coração

estranho coração

que ama o deserto e a quietude,

que ama o possível e o palpável,

e fica a beira do abismo

entorpecido,

hipnotizado.

por que todo abismo gira?

cirandeia flashes, imagens, sons e

sensações esquecidas

amarelecidas num papel qualquer

no verso do seu bilhete dizia:

para ser feliz.

seria uma heresia, se tudo não fosse

tudo mentira ou

apenas manobra de discurso.

suas palavras, seus gestos e

até sua voz

me enjoam mortalmente

e, ao vomitar tanta semântica

descubro um meio de puficar a dor

de ter se enganado

sozinha,

ao caminhar pelo deserto

ao escolher o caminho errado

sem deixar rastro,

gratidões

ou pelo menos boas lembranças.

Não sobrou nada,

nem cinzas, nem fogo e

a sombra do aceno de adeus.

GiseleLeite
Enviado por GiseleLeite em 24/05/2008
Código do texto: T1003083
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