Descoberta
Se eu fosse sua
Não sentiria tanto frio
Nem estaria estirada no chão da minha cozinha
Nem teria tomado o último gole
Nem esperaria que estivesse coberta.
Se estivesse ao meu lado
Não lutaria minhas guerras sozinha
Não teria horror do escuro
Dos armários, dos cantos
Nem buscaria um sorriso novo em cada descoberta.
Se sorrisse para mim
Nunca viveria angustiada e nua
Nunca pediria que me amasse
Nunca submeteria minhas vontades
Nunca caminharia descalça e encoberta.
No entanto
Não sou sua
Nem está ao meu lado
Nunca sorri para mim
Estou entreaberta.
Quem sou para você?
Um anjo sem asas e caído
Uma pergunta longa e dispensável
Um pesadelo sujo e esquecido.
Uma verdade úmida e volátil.
Estou no chão da minha cozinha
E acho
Apenas acho
Que aprendi a acordar sozinha.