Incêndio subterrâneo

Há um incêndio debaixo das águas mornas

de suas lágrimas

Elas não apagam as chamas

Que queimam idéias

Que queimam projetos em tubos fechados

Que remoem mágoas

Há um incêndio a crepitar minha alma velha

A reduzir em cinzas

Velhas esperanças

Velhas perspectivas

Velhas analogias antológicas

Que dormiram em prateleiras

repletas de ácaros.

Há ruínas dos sonhos antigos

Não cumpridos

E esquecidos durante o choro

Acalentado por travesseiros

Há mãos santas que esculpem

Santos-humanos

Há professores que esculpem

Sábios em corpos humanos

Criam almas à procura de esperanças

Aonde só havia perplexidade

Angústia e existência

Há os que transformam a mera existência

Na mais absoluta e cristalina

essência

Que a tudo impregna de alma,

Que a tudo humaniza e toca.

Com a magia de compartilhar,

de multiplicar,

de ser muitos e ao mesmo

Tempo um só...

Há um incêndio por debaixo de

Seu suor salgado

De seu cansaço criptografado

Nas pálpebras

Há, sobretudo, ebulição.

Fervem-lhe as veias,

as pernas, as mãos.

O frisson de estar vivo,

Estar sobrevivendo à

incógnita do futuro.

GiseleLeite
Enviado por GiseleLeite em 24/06/2008
Código do texto: T1048844
Classificação de conteúdo: seguro
Copyright © 2008. Todos os direitos reservados.
Você não pode copiar, exibir, distribuir, executar, criar obras derivadas nem fazer uso comercial desta obra sem a devida permissão do autor.