O lagarto perde o coração na primavera

Um menino dança sua dança

Uma menina lança, ao vento, o seu amor

Repousado em uma cova de leões, nu, o menino a sorrir

Ela é o lagarto a rastejar à sua volta

Os morcegos na caverna

As aranhas na parede

O amor no coração

O menino empunha agudo punhal

Ela é cega e é muda

Ela reza e ama o céu

Como o lagarto que perde a pele,

o céu responde suas preces

Os relâmpagos são a tormenta que é o menino diante dela

O lagarto perde a pele, despido pela batalha está

Está ferido por lutar, está cansado de tentar

O menino não tem Deus

Ele é bravo e é alegre

Ele é brando e sereno

Seu punhal é o seu guia

Da menina a rastejar a vida,

a navalha é amiga

Em favor lépido, o guerreiro cala o réptil

Há um punhal no peito sôfrego

E no entanto, não há mais um coração

Há aranhas em sua boca, a percorrer seu úmido interior

Os morcegos zombam negros

Grunhidos obscuros e funestos para a morte

da garota que vendeu a alma ao mundo

Ela cala e morre

Chora e dorme

O garoto vibra alto

Seu punhal é o que o protege

Há uma luz na escuridão

Ele dança até a saída

Uma menina lançou, ao vento, o seu amor

Era primavera de 22, ainda posso recordar

Um menino dançou sua dança

Não havia um coração

Cada história é sempre assim:

Da morte à vida,

do amor ao punhal.

Chana de Moura
Enviado por Chana de Moura em 08/08/2008
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