Ilusionismos.

lá fora choveu o dia todo, e talvez a cidade

esteja abaixo da linha da lama

aguaceiro que não lava a alma

o céu fechado para balanço

não recebe preces

apenas as derrama

sem calma.

aqui dentro, um pouco mais seco

algo meio calmaria

meio tormento

sempre fui todo sentimento

será uma pena

será que valeria?

hei de ficar atento.

e quando a primeira chance passar

agarrá-la, pedir que me leve

já não posso esperar

os ponteiros jamais perdoam

quem se ilude

quem se pensa imune

quem se acha doente demais pra dançar.

eu quero correr

pode ser para o mar

para as montanhas

pra uma clareira de luar

prateada e quente quanto

corpos que ardem na eternidade do momento

que nem a morte os poderia tocar.

minhas fantasias me carregam

e me despem de mim

que doce e amargo privilegio

enchem-me de ilusões

para livrar-me do tédio

como se houvessem inventado poesia

para poetas doentes, como se fosse um remedio.