QUANDO FOR ROMPER A AURORA

A solidão, quando ela é absoluta

É de um silêncio quase ensurdecedor

Chega de leve, porém firme e resoluta

Cria raízes, sem que ao menos sintas dor.

Não te preocupas, pois ela vem de mansinho

Sem que percebas quando da sua chegada

Por sorrateira, ela sabe o caminho

E se aconchega, quando já é madrugada

Nem te atrevas a tentar mandá-la embora

Ela te ataca, quando for romper a aurora.

A solidão, quando ela é absoluta

Pode ser bálsamo, até um belo remédio

É um barulho que quase ninguém escuta

E é implacável com todo esse seu assédio

Nem sempre é fácil tentar conviver com ela

Mas pode ser, também, uma boa amiga

Pois ela serve como atenta sentinela

Até encanta, com sua bela cantiga.

E nunca penses em poder jogá-la fora

Ela te ataca, quando for romper a aurora

A solidão, quando ela é absoluta

Avança até por onde menos se espera

Pois sabe bem de toda força que desfruta

Dá o bote certo, como fosse uma pantera

Depois que chega, ela já vai tomando gosto

Fica tua amiga, sem tu mesmo perceberes

“Te” faz carinho, passa a mão pelo teu rosto

Até promete a ti o melhor dos prazeres

Mas, se pensares que vais descartá-la agora

Ela te ataca, quando for romper a aurora

A solidão, quando ela é absoluta

Pode ser sol, como o que arde no deserto

Ou o abrigo de uma suave e linda gruta

Sempre ao alcance, sempre tão ali por perto

Vai depender de como ela for tratada.

Ou te encanta ou então te alucina

Pode ser vista como uma linda fada

Ou então mesmo como bruxa bem traquina

Se não tratá-la sempre bem, e sem demora

Ela te ataca... quando for romper a aurora.