INSÔNIA (Versos que me castigam) - Retrô

Posso ouvir os gritos do silêncio, o diálogo que se propaga no vazio;

Posso discernir a óbvia distinção entre o nada e o nenhum;

Porque sou agora errante passageiro dessa estrada onde me guio;

Para entender que todos os meus destinos findam em lugar algum!

Ouço a voz das minhas vozes a acato as surras da consciência;

Lá fora o calmo som do orvalho, que se estala qual pluma nas ruas;

Porque posso agora velejar sem medo, nos mares da sutil inocência;

Dando vestes de alento para todas as minhas almas, outrora nuas!

Desço as escadas altivas, feitas de humildes degraus;

Olho essa minha inflexão, que desenha suas curvas em reta;

Debato com todos os meus eus, a fim de meus bons venceram meus maus;

E abraço, por fim, meu farol apagado, que tanto me alerta!

Guardo na noite sem fim o troféu desses olhos que nunca descansam;

Revejo suas cenas sinceras: enredo tão sério de suas comédias;

E afirmo em meu desatino que eles almejam mas nunca alcançam;

E logo percebo sem medo: minhas novas vontades ainda são velhas!

Posso governar o tempo, ele quis adormecer em meu lugar;

Posso voltar ao futuro e avançar para o hoje de meu passado;

Tudo posso sob a clareza desse escuro, até meu sonho perdido achar;

Pois eu durmo aqui acordado, enquanto dormiu o que está despertado!

E assim me vou viajando, na nave que rasga o véu da madrugada;

As coisas que vejo e ouço, eu guardo em segredo pra não me contar;

Quisera render-me ao sossego, sem nunca ouvir ou mesmo ver nada;

Talvez mentindo ao meu dormir eu possa até fingir que consigo sonhar!!

Reinaldo Ribeiro
Enviado por Reinaldo Ribeiro em 30/03/2009
Código do texto: T1513611
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