Poeta, Alma de Naúfrago


Ainda que náufrago,
Jogaria garrafas com mensagens ao oceano.
Ainda que sem garrafas e sem papel,
Haveria de imaginar que existissem,
Pois que entre o delírio e a realidade que matam,
Viveria a ilusão da esperança que acalenta.
Sentiria o consolo do afeto que anseio estar perdido,
Pois que não o conquistei,
Nem meu coração foi por ele conquistado,
Antes, vive o abandono; não dos outros,
Mas de mim mesmo, pois que é enfadonho ser,
Pois que é triste existir, e ainda assim, existo.
Pensando haver passividade
Quando tudo em mim é profunda rebelião.
Não amaria com distância, pois só sei amar com paixão.
E tendo paixão, teria vergonha de mim.
Sentir-me-ia fraco ante a minha humanidade,
Pois que ainda que inexistente, minha alma é orgulhosa, Irritantemente orgulhosa.
E isso não me traz proveito algum,
Apenas a força que o tempo há sempre de subjugar.
Nisto havendo um saber da natureza,
Pois que para o bem coletivo,
Todo ego tem que ter limite,
Ou a paz seria impossível
E o caos nasceria da constância dos confrontos.
Não sei por que insisto.
Talvez haja a sombra de um náufrago,
Um fantasma insepulto que insiste em existir.
Que não vai embora, mas não deseja ficar,
Que almeja pouco, e isto há de ser tanto...
Pois perdido em idéias, enganado em emoções,
Haverá o um dia de encontrar um olhar,
Que quem sabe já habite minha vida,
Mas que, inquieto, não desvenda o silêncio.
E o silêncio diz tanto... E minha surdez não o escuta. 

Gilberto Brandão Marcon
Enviado por Gilberto Brandão Marcon em 20/04/2009
Reeditado em 02/11/2019
Código do texto: T1550085
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