Coração da estepe

Estou indo embora pelos vales de areia e pedra

A aurora azul lentamente se tinge de sangue sobre as montanhas

E hoje, nessa brisa tão fria que corta os anos da minha vida,

Descobri que meu destino não é aqui

Não pertenço ao mundo dos vivos

Tampouco pertenço ao mundo dos mortos

Pertenço ao mundo dos sonhos no confuso mundo das idéias

Minha paz encontra-se no fundo do ciclone do caos

Das estrelas que giram na roda dos céus

Meu cavalo voa pela montanha para alcançar as estepes

E eu vou seguindo sem saber onde estou

Meu destino é onde a vida estiver

Pela rosa dos ventos me perco nos anos e lágrimas

Na busca de um cometa perdido no mundo sem fim

Vou sozinho, sem recompensa, nem motivo.

Sem ninguém para me esperar no final das andanças

Não aprendi a aguardar pela vida

Bebi rápido demais do cálice dos anos

Esgotei a felicidade num só gole de desespero

O que me interessa agora é enterrar os erros

Jogá-los nos ventos da estepe cinza

Cavalgo solitário na imensidão dos dias onde todos os destinos se foram

Aqueles que um dia sorriram para mim perderam-se nos anos

Estou indo embora novamente sem nada para deixar pra trás

Nada para carregar nem motivos para voltar

Vou seguindo vazio, e lamento num grito seco os dias que deixei pra trás.

Minha voz se perde no vento, agora é tarde para arrependimentos.

Cheguei tão longe na vida

E agora me perco no mundo dos nômades

Meus dias eram todos iguais afinal

Lembro de todos os sonhos que enterrei na terra fria de chuva

O caminho é meu único amigo agora

Certamente tudo será por pouco tempo

Certamente a vida me levará para a estrada novamente

Não sei onde estou agora, sei apenas o que a natureza me conta.

Vejo a silhueta sombria do Ararat estendida nas nuvens da manhã

As montanhas tão brancas e grandes me contam os segredos sobre a vida

Só ouço o ar e o cavalgar sobre a rocha e a neve

Assim o sol prossegue em um renascer desnecessário de dias

Meu único consolo é a estrada, meu abraço é a nevasca,

Minha dor é a imensidão, minhas lágrimas são as tempestades na estepe.

E meu amor é cada uma das pegadas que ficam na neve para se apagarem na noite

O silêncio me chama, quanto tempo vamos aguentar ainda?

Resta uma longa estrada até Astrakan

Não sei até onde conseguirei seguir, só sei que devo continuar seguindo

Já é chegada a hora de viver pela estrada novamente

Numa guerra eterna entre a saudade e o destino

O cansaço e a necessidade de fugir da solidão do passado