pira

Aqui nessa pira

Jaz as cinzas dos que foram ao inferno

E de lá não escaparam

Aqui nessa pira escura e cinzenta

O vento sopra os ossos em pó

E conta dos outonos que se foram

Aqui restam apenas lembranças

Palavras cravadas nos devaneios,

Nos diálogos corrompidos

Por stress ou sedução

Aqui nesse momento

Onde deposito a esperança de eternidade

E infinitude

Tudo virou pó.

Do pó vieste , ao pó retornarás

Num paradoxo apocalíptico

Cíclico e fatal.

Dedos e riste,

Mãos gesticulando,

Corpos se amando,

Saliva de quem tem sede

São registros exitintos

Deletados no criptar do fogo

Deletados no esmaecer das brasas

Cuja maior herança

É a escuridão e silêncio

Aqui nessa pira

Não está meu amigo,

Não está o ser humano que amei

Não está aquele rosto inesquecível

Estão os restos

Os fiapos de uma grande

Trama

Finalizada pelo destino

O grande brocado da pele

Velha, enrugada

Expressiva e cansada

Está riscada na fisionomia

Da dor e do sentimento.

Aqui jaz apenas o tocável

O imponderável,

O improvável não há...

Há apenas saudades

Que jamais se extinguirão

Só quando outra pira visitar pela última vez

meus restos mortais.

GiseleLeite
Enviado por GiseleLeite em 02/05/2009
Código do texto: T1572207
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