EVAPORA-SE

Já não ouço teu andar

Teu rosto dissipa-se

Lânguido, vaporoso

Imagem intermitente

Lampejos de luz e sombra

De ser e não ser

Nossos dedos mal se tocam

Em intervalos descontínuos

Lapsos, hiatos de tempo

Já não me lembro do aroma

Do teu corpo ora alheado

Apartando-se mais e mais

Perdemos a cumplicidade

Teus traços já são esparsos

Meus desejos pontilhados

Nosso amor se dá em soluços

Espasmos, contrações, pulsos

Só permanece sólido o ciúme

Rocha negra dos desvalidos

Dos inseguros e sem porto

O negrume dessa nódoa

Estigma que embaça toda luz

Apagando o que antes era linha

Desenho fez-se rascunho