Insônia

Os olhos pesam como que cheios de areia,

na maresia de uma praia com vento frio cortante,

as gaivotas fogem assustadas com a ressaca das ondas,

colidindo em rochedos e corais com violência,

os pensamentos chocam-se em lentidão,

o raciocínio escapa pelas frestas onde entra o sol,

o corpo reclama o cansaço e a falta de energia,

a vida caminha em câmera lenta,

os sons sofrem uma distorção incômoda,

a boca não sorri, apenas boceja sofregamente,

lágrimas involuntárias trilham um rosto inexpressivo,

o ânimo é o mesmo de um brinquedo sem pilha,

o macaquinho que batia os pratos até a duracell acabar,

os braços são usados como travesseiro-amparo,

a respiração é dificultada pela falta de vontade,

mas a insônia persiste em meio ao sono cobrador de dívidas,

disputam palmo à palmo territórios de poder,

devastam a saúde e o espírito como gladiadores de um coliseu em ruínas,

sem vencedores, sem perdedores, apenas um empate contínuo,

onde o teto branco é tudo que se faz familiar dia após dia,

e os sonhos estão abandonados em algum deserto do subconsciente,

contando os instantes em segundos eternos na peneira do tempo,

a mente não esvazia, acumulando lembranças e problemas,

multiplicando razões sem soluções na calculadora da efemeridade,

a tomada não desliga embora a eletricidade esteja com a carga baixa,

as cenas deslizam como numa projeção de um filme de Chaplin,

imagens em preto & branco chuviscadas de uma tempestade invisível,

um vagabundo que percorre as ruas da solidão só tendo a bengala por sua,

e eu espero um suspiro que me deixe apagar a vela que teima em queimar...