gota

gotejam de seus olhos o mar

sereno e triste

perante as tragédias humanas

gotejam de seus olhos o mar

revolto e rejeitado

que chocam com as pedras e

lixam a areia

com sal e ressentimento

gotejam as cachoeiras lágrimas divinas,

dramas secretos,

embolias,

sangrias desatadas

dos nós dos desatinos...

gotejam sangue das mãos dos algozes

que sem culpa prosseguem

em sua trilha de mortes e medos

gotejam os lampejos de alma

a refletir na retina

o negror do entardecer,

a face oculta da lua

o pulo no abismo das paixões

gotejam as chuvas ácidas e cáusticas

sobre os castelos oníricos

construídos rodeados

de fossos e de feudos

gota a gota se constrói

o orvalho dessa manhã,

das flores que não plantei,

dos prantos que não me permiti,

dos devaneios

que não cometi.

a gota secreta do veneno

a última gota que derramei sobre a vida

inimiga.

gotejam as manhãs a procura de alguma felicidade.

haverá?

será gota um holograma?

será tudo sólido enquanto líquido?

ou será

tudo líquido enquanto sólido?

serão gotas inexplicáveis do tempo.

GiseleLeite
Enviado por GiseleLeite em 29/05/2009
Código do texto: T1621877
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