O Inimigo das Horas 

Lamentava pelo tempo de vida
que já havia passado.
Numa ação desesperada, 
tentava trancar janelas e portas,
tentando evitar o inevitável,
querendo conter o passar das horas.
Vítima impotente,
porém vertido
em feroz rebelião de vontade.
Dando ares de dramática patetice
ao seu blasfemar inútil.
Com amplo descaso 
vem a noite
e sobrepõe-se ao dia.
Não lhe pede licença,
não reconhece sua dolorosa agitação.
Humilhado por seu ínfimo tamanho,
cai esgotado e desiludido.
Não saberia dizer a hora,
mas certamente já era tarde demais.
Havia perdido preciosos segundos. 
Sovina, havia desperdiçado.
Apegado às lembranças
de alguns momentos os havia perdido.
Supondo ter alguma inspiração, 
em sua ansiedade a esqueceu.
Contabilizou fatos significativos,
mas concluiu valerem pouco ou nada.
E perdendo tanto, 
viu-se como uma espécie
de recipiente vazio.
E como não tinha
com o que encher-se,
inundou-se em solidão.


Gilberto Brandão Marcon
Enviado por Gilberto Brandão Marcon em 16/08/2009
Código do texto: T1757726
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