Na Morada do Silêncio


O dia vai-se embora
como visita apressada
que estava apenas de passagem.
Já a noite entra intrépida
como os bruscos despojados
das sutilezas da educação.
E neste confronto intempestivo
agitam-se as emoções.
O coração bate agitado,
para logo depois ser tomado
por estranha paz acidental,
ganhando um ritmo lento.
Exaurido, o corpo procura
um móvel onde possa estender-se. 
Encontra uma cadeira.
Agora repousa músculos e ossos,
somente os nervos
e sua sensibilidade estão vivos.
Deixa que o véu noturno
cubra a sua imagem,
esconde-se na penumbra conveniente.
Alimenta o  vício de divagar,
brinca entre pensamentos e sentimentos. 
Inunda o ambiente com inquietações,
cria quadro perversamente ilusório.
Num instante de consciência
avalia o mal habito do stress
para logo depois
aproveitar o seu prazer
de fluxos de adrenalina.
Perde-se em inúteis questões,
tenta encontrar algo
como agulha em enorme palheiro.
O olhar trafega pelo cômodo,
focos de luzes dos automóveis
lançam-se sobre a janela.
O som da cidade contrasta
com o seu silêncio,
agrada-lhe aquela passiva quietude.
E, então, tudo se cala,
já não ouve, já não está,
fugiu de si.
Vestiu-se de sombras
e adentrou a morada do silêncio.
Gilberto Brandão Marcon
Enviado por Gilberto Brandão Marcon em 29/08/2009
Reeditado em 21/12/2019
Código do texto: T1781671
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