A LÁ PESSOA

NEM SEMPRE vejo as sombras

de meus pés quando ando.

Às vezes não percebo que tenho os pés

é como se não os tivesse.

O pensar é um vazio cheio de dor

e dói-me quando o calçado é menor

que meus pés.

Aperta como se fosse o último gole

Sacia como se pressentisse a última gota.

Ás vezes sinto as sombras

de meu terno a me perseguir.

Luto e livro-me da perplexa sombra

que não respeita ao menos meu medo.

Como meu medo fosse eterno

embora seja ele uno e consciente.

Não serei o que brada nos campos

ainda impuros, nem o que grita

esperando o eco das cavernas.

Serei apenas a caverna.

Serei apenas a sombra.

Estou em repouso

como o cinzeiro a minha frente.

O retrato que guardo de mim

está do avesso. Estou do avesso

como a camisa que cobre meu dorso

e ela não é maior que o mundo

pois nela cabe meus braços esguios

e naquele não cabe minha dor.

Estou em repouso.

Apenas uma mosca vadia

rebimba suas asas em meus ouvidos.

wagner marim

Wagner Marim
Enviado por Wagner Marim em 07/05/2010
Reeditado em 29/05/2010
Código do texto: T2243527
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