Porque

Porque o que quero,

minhas palavras não sabem dizer

Porque o que sei,

minhas ações não sabem revelar

Ando em desalinho, cabelos ao vento, rosto lavado

Expressão sonolenta, arrastando pelo corpo alguma alma

dependurada no varal da distração,

trajada em borralho

Porque o que meu coração precisa,

só há na selva,

no silêncio incrustado das montanhas,

no brilho secreto dos cristais.

Nos invernos mais frios e densos

A congelar a sensação de fastio e de afeto

Um gesto, um aceno

Um quase sorriso, um olhar pontilhado

de saudades e de remorsos

Porque o que sinto,

não tenho como lhe dar

Nem lhe falar,

Nem lhe revelar.

Os muros de minha consciência estão pixados.

de palavras de baixo calão.

Estão sujos pela indiferença peregrina

Porque não tenho os medos comuns

e humanos

Porque não vejo o que apenas me aparece

Nem o que a luz apenas bafeja

Leio nas trevas dos olhos alheios

segredos pungentes.

Na tarde do outono leio ainda

a vida que se esvaiu por dentre as folhas.

Secas e reverberantes ao vento, e

as tempestades.

Porque não posso partir simplesmente

Ainda que tudo seja finito,

seja fugidio.

Seja uma gota molecular

num imenso horizonte

perdido de suas mãos.

Seja um orvalho bastardo

numa manhã acidental.

Porque tudo que sinto,

não podem as palavras

traduzirem

sem traírem com fonemas e semânticas.

o que só o silêncio escutou.

GiseleLeite
Enviado por GiseleLeite em 24/05/2010
Reeditado em 24/05/2010
Código do texto: T2277163
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