"Gaivota", de Pirata
No vai-e-vem, repouso
Em minha improvisada nau,
Nestes restos do que um dia foi
Minha honrosa embarcação pirata.
Fedendo a rum e solidão,
Navego sem rumo ou rota,
Entregando-me à noite
Como quando se entrega a uma derrota.
Exposto ao vento e ao tempo,
Apenas coberto pela lua piedosa.
Amanhece azul-azul
E, como se não bastasse,
Até gaivota vem zombar do meu lamento.
Este pirata está mais para náufrago,
Perdido no mar, perdido em si.
Eu deveria estar no fundo destas águas,
Ter afundado junto com os meus.
Não há fim que me justifique a vida,
Pelo menos não na pirataria.
Se aos meus sonhos de criança eu voltasse,
Talvez um belo pintor me tornasse.
Para isso, precisaria estar na terra e não no mar.
Espere aí...
Gaivota é sinal de terra!
Para onde, então, hei de me guiar?
...
hum... hum...
Você já parou para reparar
Como é belo o voar da gaivota?
Se pudesse, o pintava.
Como não posso, basta-me admirar.