SER

Sou. E sendo, ando perdida.

És. E sendo, andas perdido.

Não sei por que tens esses olhos assim profundos

que embriagam como a verdade.

Que enlouquecem como a mentira.

Que enfurecem como vinho ordinário.

Não sei por que tens mãos lânguidas

e uma cara como os meus versos duros

- e uma alma impura.

Não sei por que és imperfeito e doce como o bem que está nos puros.

Por que és o avesso da verdade crua?

Por que não és a mentira nua?

Se de ti me avisto, torno-me rude

e me perco no mar revolto de teus olhos fundos.

Ah! Tu, se me visses, tornar-te-ias ameno

cabularias a vida austera

flutuarias no sopro da brisa

tocarias a face dos anjos.

... Mas tu andas louco, perdido por te encontrar como

eu louca ando,

perdida por me encontrar.

Sena Siqueira
Enviado por Sena Siqueira em 22/06/2010
Reeditado em 20/02/2022
Código do texto: T2334974
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