FUNDAMENTAÇÃO DO EU SOZINHO

Os dias se passam como nuvens de algodão

Que a cada hora se desfazem e se transformam em novas nuvens,

Deixando para trás aquela sensação de que um dia você

A encontrará novamente.

Que dia é hoje?

Em que época estou vivendo?

Será que realmente me encontro aqui sentado

Digitando meia dúzia de palavras?

Ou será que apenas meu corpo permanece nesse estado

Enquanto minha mente vagueia por infinitos mundos?

Perto de ti eu me encontro tão sozinho,

Na verdade nem mesmo me encontro,

Posto que sou apenas a sombra do que um dia eu fui.

Tenho apenas a solidão como fiel companheira,

Aquela que realmente esteve comigo nos momentos de alegria e de dor,

Que esteve comigo nos momentos em que nem mesmo existiam momentos,

Nos instantes de febre, na ânsia da dor, na espera do inesperado.

O que seria de mim sem ti, ó solidão das noites eternas!

Enquanto eu viver acompanhado, minha vida será sempre de solidão.

Espero ansioso o momento de viver sozinho para deixar de sentir solidão.

Em tudo que eu olho tu estais

No lençol desarrumado

Em dois patros sobre a mesa

Em duas toalhas no varal

Em dois lábios se tocando

Em dois olhos se lamentando.

Eu vejo a solidão no meio da multidão

No copo de cerveja que se seca

Na dor de viver sozinho acompanhado

No amanhã que surge depois da noite fria.

Por um instante eu gostaria de estar sozinho

Por um momento eu desejaria permanecer acompanhado,

Por toda vida eu desejo apenas a companhia do meu sangue,

Do que de mim foi gerado por sangue ou por amor...

Eu não desejo o sonho de uma vida bela,

Eu prefiro a realidade de uma vida amarga,

Pura, inóqua, voraz, desumana,

Do que a hipocrisia de viver sozinho.

Marcelo de Lima Cruz
Enviado por Marcelo de Lima Cruz em 27/08/2010
Código do texto: T2461911
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