O QUARTO DO FUNDO

O quarto do fundo

Mário Lattes

Repousava ela desnuda de amor

No quarto do fundo,

Vestida de dor.

Bela, em fino cetim envolta,

Ao acordar,

Vestia-se de organdi e seda,

Fina roupagem, sapatos da moda,

Perfume da mais fina fragrância francesa,

Maquiagem intacta.

Cabelos com negros cachos

Penteavam saudade de quem já não via.

Borrava-lhe o delineador de olhos

Uma sutil lágrima jamais escorrida.

Um dia mudou-se pro quarto da frente.

Seu repouso, de vez acabou.

Lençol de cetim rasgado foi ao chão,

Esfarrapado num arroubo de amor.

Acordou nua sem seda,

Descalça e cheirando a suor.

Cabelos desgrenhados despenteavam

A presença do amante cheirando a paixão

Botou-a bela sem maquiagem,

Mais bela que bela era a maquiagem.

Postou-se defronte o espelho

Lavou a maquiagem sem cheiro,

Sem cor, sem presença.

Chorou as olheiras da saudade,

Repenteou seus cabelos sem cachos,

Pegou seu cetim em farrapos

E pro quarto do fundo voltou.

Carlucho
Enviado por Carlucho em 09/11/2010
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