Sem você (Cochilo)

Quando o sono chega vagaroso

No fim da tarde quente de verão

A chuva acompanha a preguiça

E a desordem dá lugar a pensamentos doces

O cachorro deitado ao pé da porta bufa em um sonho mirabolante

A janela se escurece e clareia de acordo com os relâmpagos

E a vida na serra vai seguindo tranqüila, meio boba, meio meiga

Eu me deixo levar pela águas, vou embora chuva adentro

Eu me deixo levar pelos sons da mata fechada

E ela me envolve em cores e devaneios escuros

Quando a nuvem beija a floresta, o verde dá lugar a uma tênue branquidão

E os minutos passam como quem cavalga no barro frio

Charrete sem pressa na estrada que acompanha o grande rio

O rio que segue ao longe, indicando o caminho tortuoso da minha vida

Suas águas escuras me guiam através dos vales

No caminho de Nazaré, seguindo rio acima eu vou embora

Sigo até ter certeza de que tudo ficou para trás

Lentamente desperto no breu da noite

O cachorro late no quintal

A chuva deu lugar ao vazio e aos sons das goteiras

Na preguiça das horas eu mergulho na solidão repentina

Logo vou embora, de serra em serra

Tocando a vida simples, vendo o céu mudar

Meu mundo sempre gira sem direção

Essa é uma vida de ventos errantes, de silêncios e multidões

Uma vida de vazios e contemplação

De sonho em sonho me deixo levar

Pela vida que me espera sem você