Nuvens sob o céu da madrugada

As nuvens estão longe e falam comigo.

Elas fecham o meu dia e dizem que acabou.

O escuro, companheiro do silêncio, intimida.

A noite comunica o fim das companhias.

O tempo nublado são as pálpebras do meu espírito

Que sozinho olha para si.

Como um ser vendo-se no escuro

E vendendo sua alma ao primeiro que quiser comprá-la.

As nuvens são gélidas como a respiração.

O frio faz-se ainda mais frieza.

Ofuscado, congela o tempo para o poeta pensar.

A noite comunica essa alegria.

Alguns poetas são amantes da noite.

Enquanto todos dormem o sono da morte e da digestão.

Para o poeta comer seu próprio coração.

Para o espírito sensato, que encontra sua solidão.

As nuvens são, agora, meu telhado mais forte.

Além da pedra, barro, ponta de cascalho.

O poeta sobrevoa as nuvens embriagado.

Contagiado pela ínfima de nenhuma conclusão.

É que poetas não concluem nada.

Conclusões esbarram nas nuvens.

Poetas avançam para todas as direções.

São livres, ficam vendo nuvens como se fossem chão.

Fábio Alvino
Enviado por Fábio Alvino em 07/01/2011
Reeditado em 07/01/2011
Código do texto: T2714290
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