Trem Fantasma

Trem Fantasma

Um anjo dorme no meu colo

enquanto o trem na tempestade

acorda a treva no meu peito

me leva além da realidade.

Que medo este que me abate

em grades turvas de um passado?

Algum efeito desta idade?

Algum passado embalsamado?

E a chuva densa na janela

p'ra noite tácita me leva,

em outras vidas, sempiternas

perdidas todas nessa treva...

E um anjo dorme no meu colo,

seu rosto efígie de futuros

revolve as tramas do passado

nos cachos tenros e tão escuros...

E a chuva escorre na janela

co'as outras luzes vagas, plácidas

que passam, casas passageiras,

visões tão turvas e tão pálidas!

E as vidas correm passageiras

enquanto o trem me esperando

dormente envolve-se na treva

e a chuva implora-me chorando:

“A morte impera no mormaço

enquanto guardas seus fantasmas

e a vida esvai-se no passado,

nos anjos mortos, no miasma!”

E tu que dormes no meu colo...

O trem carrega nossas vidas,

pr'as brumas mornas dos destinos,

prisões e vidas tão perdidas...