Completamente nú
Estou saindo agora
Quero olhar as pessoas na rua
De soslaio
Prá saber se estou bem
Se seus olhares me dizem que sou melhor do que elas
Quero mostrar meu cabelo chapado
De escova progressiva
Com meu olho puxado, pelo lápis carregado
O meu rosto perfeito, se bem que não bem do jeito
Que eu queria que fosse.
Não passou pelo meu crivo o ajuste de botox
O músculo empedrado pode ser observado
E isso pode mexer com o ego do meu namorado.
Quero olhar os homens
Olhando prá minha bunda
Levantada por um jeans caro
Ou na academia onde malho
Quero andar na calçada
Com a blusa decotada, mas de cara fechada
Prá não demonstrar que me agrada
A cara das pessoas
Que me olham embasbacadas
Meu celular é quase perfeito, mas tem um defeito
A maçã mordida, está quase escondida...
Poderia ser maior ou mais colorida...
Adoro sacá-lo da minha bolsa
De alguns montes de reais
E falar até não poder mais...
Sentindo o olhar das pessoas normais,
Pobres mortais...
Que num momento de contradição
Meu ego em confusão
Diz que não devo notar ...
Um dia me deparei
Com alguém prá quem eu não existia
Ou que não reconhecia
Valor no valor que eu via
Ou nas coisas que eu queria
E vi o desconhecido...
Caí dos 6 metros de altura, donde estava o ego meu
Doeu..
Quando meu rosto bateu...
Tão nobres meus desejos pobres
Me pareciam ser
Desci aos poucos do meu salto de bacana
Prá olhar bem de perto e do chão...
E estupefata
O que eu via naquela cama...
De peito grande, braço, perna, barriga e bunda dura
De botox, sem namorado
Com amargura...
Um corpo gelado...
Sem pessoas embasbacadas
Sem celular, sem maçã
Sem bolsa de chinchila
Sem vaidade
Sem lanchas, sem lenço, sem documento
Sem mar, sem céu azul
Sem olhares de cobiça
Que a meu ego enfeitiça
Sem eles, sem elas, sem vós, sem tú
Apenas meu corpo...
Ainda sem espírito...e nú