A Morte Do Vivo

Sujeito tido como alegre,

Animasva as fetas,

Dizem que a todos diverte,

Sua expansividade afeta.

Sem que soubessem o motivo,

Um dia deixou de existir,

Se tornou um vago delirio,

Muitos nem a falta puderam sentir.

Era essencial enquanto presença,

Quem não poderia faltar,

Se tornou banal como ausência,

Nem sequer vale a pena citar.

O tempo sepultou sua lembrança,

Mesmo estando afastado,

Era como se nunca ocorresse aliança,

Um sentindo jamais procurado.

Continuo vivo, seguindo seu caminho,

Mas ignorado no meio que vivia,

Pra todos os ex-amigos um morto-vivo,

Mas pra ele a antiga vida também morria.

Não se reconhecia diante daquele espelho,

Sujeito sem memória convidativa,

Abandonado num caos que fabrica desespero,

É peregrino num deserto que cria.

A realidade é aquilo que percebemos,

Nossa realidade que pode se desfazer,

Deixando pra trás abissais pensamentos,

Sem que exista ponte que venha interceder.

Como se escalasse uma montanha,

Chegando ao cume, olhasse pra trás,

Nada restasse da sua dolorsa andança,

Restando na frente novo caminho e nada mais.

É quando paramos e tentamos refletir,

Mas nada existe de fundo para o reflexo,

Angustiantemente nos apegamos ao devir,

Mendingos sem um pensar que lhe sirva de resto.

Estamos sozinhos e repletos de nós mesmos,

Os estranhos que agora aparecem,

Vão ganhar novo significado nesse enredo,

Antigos personagens evanescem.

As conversações seguem seu ritmo,

As risadas falsas de embriaguez,

Os olhares que projetam egoísmo,

Tudo na maior desfaçatez.

Aquele que foi é como um nunca vindo,

A roda continua girando num tempo sem história,

Vale mais a piada que reacenderá o riso,

Busca-se com ardor uma instantânea glória.

Acho que já havia me perdido numa risada,

Uma mulher fútil abrira a boca em demasia,

A obturação mal feita sem ela percerber, desabara,

Logo isso ocorreria comigo, exorcizado pela apatia.

No caso da mulher, talvez sinta dor de dente,

Eu fui extirpado de forma anestésica,

A dor não vai causar alarde ao meu estado ausente,

Um exilado um tanto quanto patético.

Não é que não me vejo mais onde estava,

Nunca estive realmente naquele lugar,

A ilusão de presença, o corpo enganado fabricava,

Dependência abjeta que foi possível renunciar.