Sou um homem nocturno

Sou um homem nocturno.

O meu rir serve de disfarce, apenas, para tentar colorir

as páginas a preto e branco da vida.

Sou um homem nocturno a quem contaram que, afinal,

na vida há outras pessoas nocturnas, assim. São pessoas

que por mais que reguem os seus jardins de sonho

e floresçam neles sonhos de vida, ficam-se por aí.

E acalentam-se e aconchegam-se no húmus de eternos

e incondicionais jardins. E morrem de pobres.

Há pessoas insensatas que se misturam insensatamente

em existências vertiginosas de impossíveis,

e fazem figura com o que nem sequer é seu.

Essas permanecem demoradamente neste universo

porque os seus jardins são labirínticas arquitecturas

mentais de vigarice, onde resguardam o corpo

sem vergonha de ser.

Corpo que também há-de morrer na voragem do tempo.

E apodrecer. E reduzir-se a pó,

porque nada nesta vida de si é eterno

e jamais passará dum corpo de merda qualquer.

Essas pessoas vivem na ilusão e na incerteza!

E hão-me morrer na mesma sem glória nenhuma.

A mim basta-me, apenas, a ilusão de conseguir enganar

o medo que tenho desses dias cinzentos sem ninguém.

A vida é monótona e triste.

Por mais que fuja e parta por aí, encontro-me sempre só

e ausente em lugar nenhum.

A vida é feita, aqui, de incertezas à margem das estrelas

que mergulham, no fim da linha do horizonte,

no escuro do nada. O horizonte engole-as todas.

E eu olho-as com o meu olhar ignorante em desespero.

Talvez a vida não seja mais que um desespero.

Mas esta encenação da vida já é um desespero!

Quando o céu se fundir com as águas do mar no Nada

o meu corpo repousará nos escombros

de um buraco qualquer e aquilo de mim que teima

em viver, cavalgará no cavalo do infinito

com destino a lugar nenhum.

Alvaro Giesta
Enviado por Alvaro Giesta em 29/07/2011
Código do texto: T3127086
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