Canção para a moça triste
Por favor, não morras!
A tua saudade é fogo que queima
as horas insones desta madrugada.
Teu barco à deriva não encontra porto
e nem as estrelas parecem ouvir
os tambores da guerra batendo em teu peito.
Tu que procuras a morte pequena,
aquela que voa com asas ligeiras.
Há léguas e léguas de noite e distância,
há mares e abismos e vultos medonhos.
Há sede e tormenta nos passos que buscam
o porto dos braços que abraçam a luz.
Há mãos que rastejam o cascalho frio,
há sangue vertendo em cada solidão.
Mergulha na noite a lágrima veloz,
semente de rio, de sal e saudade.
Teu peito é pequeno pro chumbo das horas.
Teu leito, tão grande pra tão cruel demora.
Por favor, não morras.
Que o porto que buscas há de andar por perto.
E, quando encontrares, nascerão orquídeas
na areia crua dos peitos desertos.
Por favor, não morras!