TOALHA MOLHADA

Num certo dia de março, ao deparar com a chegada daquela noite que se apresentava com momentos nostálgicos à tranquilidade da ocasião, me veio uma sensação de desânimo ocasionada pela ausência de alguém. O ar fresco com sua leveza invadia todo espaço como se procurando algo para se apegar, foi cada vez mais se aproximando, até chegar e bater no meu rosto e isso refletia no sentimento provocador da solidão e do devaneio. A viagem cada vez mais distante, como se achando no centro de imensas depressões naturais, onde só seria visitado pela mente insânia e jamais pela verve conscientemente elaborada.

Com esse viés, se fez presente apenas a vontade de ressuscitar o essencialmente necessário, não se sabe bem de que, ou quem sabe, somente da vontade de preencher lacunas ou caminhar obliquamente direcionado ao ermo do desconhecido. Assim, surge uma luminosidade inesperada, seduzindo ao sentido desvairado no seguinte gesto de emanar o cerne esmigalhado, como sendo uma saída, uma liberdade, a “toalha molhada”. Aquela peça, por tantas vezes tornada íntima, com rendas nas bordas, que após ter sido usada, ainda úmida, guarda o odor agradabilíssimo de quem a passou nas curvas mais insignes, tão profundamente, que não da carne, mas proficuamente da alma. Ah! Aquele cheiro de quem está ausente vem preenchendo de maneira fugaz esse vazio, sem demora, e dessa forma se esvai o lamento indesejado, então fica marcado para sempre, e gerará inconfundivelmente algumas fronteiras instintivas, definidas através da seguinte pujança:

“Quando você estiver ausente e bater a saudade, vou cheirar sua toalha...”

A matéria segue aliada à distância, mas os sentidos ficam e melhor, entranham no âmago do nosso ser, no subconsciente das nossas mais infinitas ações e apegos, trazendo a tona a prenhez da nossa mais absoluta satisfação e preenchimento, surgindo das nobres e ínfimas agudezas do nosso interior. Então, não vale sofrer pela morte, mas viver abraçado a uma toalha molhada, para sentir a presença, de quem...?! ... cada qual com os seus trapos sentimentais.