[soavam guitarras sem fado]
Apresentando O Transversal
“La Folie, Lydia the Tattooed Lady, dos irmãos Marx,... das viagens, das estações do ano, das partidas e de alguns regressos...”
…
naquele instante interno
a tatuagem eterna nascia,
sem cor, sombreados,
algum sangue manchava a pele,
…
nas promessas suadas,
soavam guitarras sem fado,
ao longe, lá longe.
…
Onde tudo começara, desconhecia,
queria outros sofrimentos,
alguma alegria, porque
não[?], o corpo cansado
resistia a uma agulha velha
que tricotava zumbidos,
[havia quem lhe chamasse desenho],
porque não desenho [?].
…
Porque não, tanta a indecisão
ultrapassada, gasta de rotas
noturnas sem referência,
e entre um copo de vinho, e outro,
era rei, mesmo de um reino
sem terra, só mar, nem os areais
escondidos de Zanzibar,
nos cheiros do cravinho,
da canela, iluminavam a noite,
…
porque não iluminavam o dia
as estrelas [?].
Estranha a tatuagem da morte,
formada no antebraço,
porque não[?], afinal contra ela
passara a vida a lutar,
promessa de um moribundo, uma noite,
ressusssitado pelo beijo
de uma nereida apaixonada,
podia ser o beijo de cimótoe,
porque não?
…
Soavam guitarras sem fado,
ao longe, lá longe,
onde tudo começara...
"Quando eu morrer, morre a guitarra também.
O meu pai dizia que, quando morresse, queria que lhe partissem a guitarra e a enterrassem com ele.
Eu desejaria fazer o mesmo. Se eu tiver de morrer.” Carlos Paredes (1925-2004)
Quando eu morrer que nasça outro mar,
mesmo que seja um mar só de horizontes,
mesmo que seja um mar mais pequeno que os outros,
mesmo que seja um mar apenas de sonhos,
se eu tiver de morrer. Porque não[?]