REPLETO DE NADA...

"A verdade é feia: temos a arte a fim de que a verdade não nos mate."

(Friedrich Nietzsche)

Nem na solidão, há solidão, como todos falam.

Aquele pássaro

naquela gaiola fria, todo dia

o céu passa à sua frente,

sol ardente aquece o frio

metal daquelas grades!

Do interior da sua clausura

o pássaro cantor vê acenos;

vê o menino que corre

solto na vida todo serelepe.

menino-lobo pisando florestas...

O cantar cheio de vida

faz tremer a solidão;

que agora dança boleros

de Ravel na dura manhã

encouraçada do pássaro.

O pobre, agora louco,

faz mil viagens em torno

de si mesmo, e se perde

na imensidão do seu mundo

(encantado?) e repleto de nada.

Quantas vezes já me viram preso

numa gaiola imaginária de

grades intransponíveis?

Quantas vezes se desfizeram

sem que muita força eu fizesse?

Mas tudo ao seu tempo.

Nem na solidão, há solidão, como todos falam.

IVAN CORRÊA
Enviado por IVAN CORRÊA em 06/02/2012
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