SOLILÓQUIO DO DESAMOR

Andei a prefaciar meus próprios erros

Erros que adornaram minha infância

Como a lírios as pétalas sobrecasacam

Erros que fiaram minha adolescência imatura

Erros que se multiplicam agora em minha maturidade

Sempre que leio minha agenda mental

Com meus compromissos jamais escritos

Porque me apavora desenhar meu futuro

E prever cada dia se repetindo

Como trem governado a um precipício.

Enfim, sempre que a leio,

Suscita em mim uma ânsia de latumiar

Uma latumiação paliativa que dizem tão salutar a vida

Mas o que é a vida?

O que eles sabem da vida?

O que sabem da minha vida?

Nem eu quero saber dela (apesar de trazê-la agendada)

A infância é a única surpresa verdadeira da vida

Como o dia em que vi Ingrid dormindo na varanda

E em ponta de pés aproximei-me dela

Afastei seus lindos cabelos de seu rosto angelical, beijei-o e corri

Já no portão quis vê-la ainda a dormir

E para meu espanto ela, sentada, sorria-me

E eu, com vergonha da armadilha em que caira,

Não voltei à varanda naquela hora... Nem em hora nenhuma... Nunca mais

Hoje, da janela de casa vejo ruas que nunca saberei,

Escuto músicas que nunca dançarei

Vejo pessoas que nunca conhecerei

Pessoas que sempre serão mais felizes que eu

Pessoas que nenhum orgulho possuem,

Cujo não possuir as desobriga de serem infelizes

Pessoas que não erram tanto quanto eu errei e erro

E por isso nunca fazem o que todos esperam que elas façam

E sempre tornam às varandas de seus anjos embosqueiros.

Saulo Palemor
Enviado por Saulo Palemor em 13/03/2012
Reeditado em 04/02/2013
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